Muitas vezes usamos certas expressões, mas não
temos ideia do que elas significam.
São ditados ou termos populares que através dos anos
permaneceram sempre iguais, significando exemplos morais, filosóficos e
religiosos.
Tanto os provérbios quanto os ditados populares
constituem uma parte importante de cada cultura.
Historiadores e escritores sempre tentaram descobrir
a origem dessa riqueza cultural, mas essa tarefa nunca foi nada fácil.
Veja aqui algumas dessas expressões ou ditados
populares:
Bicho-de-sete-cabeças
Tem origem na mitologia grega, mais precisamente na
lenda da Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que, ao serem cortadas,
renasciam. Matar este animal foi uma das doze proezas realizadas por Hércules.
A expressão ficou popularmente conhecida, no entanto, por representar a atitude
exagerada de alguém que, diante de uma dificuldade, coloca limites à realização
da tarefa, até mesmo por falta de disposição para enfrentá-la.
Com o rei na barriga
A expressão provém do tempo da monarquia em que as
rainhas, quando grávidas do soberano, passavam a ser tratadas com deferência
especial, pois iriam aumentar a prole real e, por vezes, dar herdeiros ao
trono, mesmo quando bastardos. Em nossos dias refere-se a uma pessoa que dá
muita importância a si mesma.
Ver (ou adivinhar) passarinho verde (MAS PODE
SER AZUL, AMARELO, VERMELHO, ROXO E POR AÍ VAI!)
Significa estar apaixonado. O passarinho em questão
é uma espécie de periquito verde. Conta uma lenda que alguns românticos rapazes
do século passado adestravam o bichinho para que ele levasse no bico uma carta
de amor para a namorada. Assim, o casal de apaixonados tinha grandes chances de
burlar a vigilância de um paizão ranzinza.
Com a corda toda
Antigamente, os brinquedos que possuíam movimento
eram acionados torcendo um mecanismo em forma de mola ou um elástico, que ao
ser distendido, fazia o brinquedo se mexer. Ambos os mecanismos eram chamados
de “corda”. Logo, quando se dava “corda” totalmente num brinquedo, ele movia-se
de forma mais agitada e frenética. Daí a origem da expressão.
Tapar o sol com a peneira
Peneira é um instrumento circular de madeira com o
fundo em trama de metal, seda ou crina, por onde passa a farinha ou outra
substância moída. Qualquer tentativa de tapar o sol com a peneira é inglória,
uma vez que o objecto é permeável à luz. A expressão teria nascido dessa
constatação, significando atualmente um esforço mal sucedido para ocultar uma
asneira ou negar uma evidência.
Afogar o ganso
No passado, os chineses costumavam satisfazer as
suas necessidades sexuais com gansos. Pouco antes de ejacularem, os homens
afundavam a cabeça da ave na água, para poderem sentir os espasmos anais da
vítima. Daí a origem da expressão, que se refere a um homem que está precisando
fazer sexo.
Santa do pau oco
Expressão que se refere à pessoa que se faz de
boazinha, mas não é. Nos século XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó,
moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O
santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.
Mais vale um pássaro na mão que dois voando
Significa que é melhor ter pouco que ambicionar
muito e perder tudo. É tradição de antigos caçadores. Eles achavam melhor
apanhar logo a ave que tinham atingido de raspão, antes que ela fugisse, do que
tentar atirar nas que estavam voando e errar o alvo.
Apressado come cru
Quando não existia o forno microondas, era preciso
muito tempo para a comida ficar pronta, ou então comê-la crua. Nessa época, a
culinária japonesa ainda não estava na moda e comida crua era vista com maus
olhos. Assim, a expressão passou a ser usada para significar afobamento,
precipitação.
Chorar as pitangas
Pitangas são deliciosas frutinhas cultivadas e
apreciadas em todo o país, especialmente nas regiões norte e nordeste do país.
A palavra deriva de pyrang, que, em tupi-guarani, significa vermelho. Sendo
assim, a provável relação da fruta com lágrimas, vem do fato de os olhos
ficarem vermelhos, parecendo duas pitangas, quando se chora muito.
Farinha do mesmo saco
“Homines sunt ejusdem farinae” esta frase em latim
(homens da mesma farinha) é a origem dessa expressão, utilizada para
generalizar um comportamento reprovável. Como a farinha boa é posta em sacos
diferentes da farinha ruim, faz-se essa comparação para insinuar que os bons
andam com os bons enquanto os maus preferem os maus.
Colocar panos quentes
Significa favorecer ou acobertar coisa errada feita
por outro. Em termos terapêuticos, colocar panos quentes é uma receita, embora
paliativa, prescrita pela medicina popular desde tempos remotos. Recomenda-se
sobretudo nos estados febris, pois a temperatura muito elevada pode levar a
convulsões e a problemas daí decorrentes. Nesses casos, compressas de panos
encharcados com água quente são um santo remédio. A sudorese resultante faz
baixar a febre.
Cor de burro quando foge
A frase original era “Corra do burro quando ele
foge”. Tem sentido porque, o burro enraivecido, é muito perigoso. A tradição
oral foi modificando a frase e “corra” acabou virando “cor”.
Pagar o pato
A expressão deriva de um antigo jogo praticado em
Portugal. Amarrava-se um pato a um poste e o jogador (em um cavalo) deveria
passar rapidamente e arrancá-lo de uma só vez do poste. Quem perdia era que
pagava pelo animal sacrificado. Sendo assim, passou-se a empregar a expressão
para representar situações onde se paga por algo sem ter qualquer benefício em
troca.
Salvo pelo gongo
O ditado tem origem na na Inglaterra. Lá,
antigamente, não havia espaço para enterrar todos os mortos. Então, os caixões
eram abertos, os ossos tirados e encaminhados para o ossário e o túmulo era
utilizado para outro infeliz.Só que, às vezes, ao abrir os caixões,os coveiros
percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que
aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo (catalepsia – muito comum
na época).
Assim, surgiu a idéia de, ao fechar os caixões,
amarrar uma tira no pulso do defunto, tira essa que passava por um buraco no
caixão e ficava amarrada num sino. Após o enterro, alguém ficava de
plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o
movimento do braço faria o sino tocar. Desse modo, ele seria salvo pelo
gongo. Atualmente, a expressão significa escapar de se meter numa encrenca
por uma fração de segundos.
Elefante branco
A expressão vem de um costume do antigo reino de
Sião, situado na atual Tailândia, que consistia no gesto do rei de dar um
elefante branco aos cortesões que caíam em desgraça. Sendo um animal
sagrado, não podia ser posto a trabalhar. Como presente do próprio rei, não
podia ser vendido. Matá-lo, então, nem pensar. Não podendo também ser
recusado, restava ao infeliz agraciado alimentá-lo, acomodá-lo e criá-lo com
luxo, sem nada obter de todos esses cuidados e despesas. Daí o ditado
significar algo que se tem ou que se construiu, mas que não serva para nada.
Comer com os olhos
Soberanos da África Ocidental não consentiam
testemunhas às suas refeições. Comiam sozinhos. Na Roma Antiga, uma
cerimônia religiosa fúnebre consistia num banquete oferecido aos deuses em que
ninguém tocava na comida. Apenas olhavam, “comendo com os olhos”. A
propósito, o pesquisador Câmara Cascudo diz que certos olhares absorvem a
substância vital dos alimentos. Hoje o ditado significa apreciar de longe, sem
tocar.
Amigo da onça
Segundo estudiosos da língua portuguesa, este termo
surgiu a partir de uma história curiosa. Conta-se que um caçador
mentiroso, ao ser surpreendido, sem armas, por uma onça, deu um grito tão forte
que o animal fugiu apavorado. Como quem o ouvia não acreditou, dizendo que , se
assim fosse, ele teria sido devorado, o caçador, indignado, perguntou se,
afinal, o interlpcutor era seu amigo ou amigo da onça. Atualmente, o ditado
significa amigo falso, hipócrita.
Estar com a corda no pescoço
O enforcamento foi, e ainda é em alguns países, um
meio de aplicação da pena de morte. A metáfora nasceu de anistias ou comutações
de pena chegadas à última hora, quando o condenado já estava prestes a ser
executado e o carrasco já lhe tinha posto a corda no pescoço, situação que, de
fato, é um sufoco. Hoje, o ditado significa estar ameaçado, sob pressão ou
com problemas financeiros.
Casa de mãe Joana
Este dito popular tem origem na Itália. Joana,
rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em
Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: “Que tenha uma
porta por onde todos entrarão”.
O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em
Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou “Casa da Mãe Joana”. A outra
expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem,
naturalmente.
Onde judas perdeu as botas
Como todos sabem, depois de trair Jesus e receber 30
dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar enforcando-se
numa árvore.
Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30
dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca as
botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro.
A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos
se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte
séculos. Atualmente, o ditado significa lugar distante, inacessível.
Quem não tem cão caça com gato
Se você não pode fazer algo de uma maneira, se vira
e faz de outra. Na verdade, a expressão, com o passar dos anos, se
adulterou. Inicialmente se dizia “quem não tem cão caça como gato”, ou seja, se
esgueirando, astutamente, traiçoeiramente, como fazem os gatos.
Deixar de Nhenhenhém
Conversa interminável em tom de lamúria, irritante,
monótona. Resmungo, rezinga.
Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os
portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e
diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.
Pensando na morte da bezerra
Estar distante, pensativo, alheio a tudo.
Esta é bíblica. Como vocês sabem, o bezerro era
adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por
não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que
tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos
céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte
da bezerra”. Consta que meses depois veio a falecer.
Jurar de pés junto
A expressão surgiu das torturas executadas pela
Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados
(juntos) e era torturado para confessar seus crimes.
Lágrimas de crocodilo
O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte
pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele
chora enquanto devora a vítima. Daí a expressão significar choro fingido.
Gatos pingados
Esta expressão remonta a uma tortura procedente do
Japão que consistia em pingar óleo fervente em cima de pessoas ou animais,
especialmente gatos.
Existem várias narrativas ambientais na Ásia que
mostram pessoas com os pés mergulhados num caldeirão de óleo quente. Como
o suplício tinha uma assistência reduzida, tal era a crueldade, a expressão
“gatos pingados” passou a significar pequena assistência sem entusiasmo ou
curiosidade para qualquer evento.
Sem papas na língua
Significa ser franco, dizer o que sabe, sem
rodeios. A expressão vem da frase castelhana “no tener pepitas em la
lengua”. Pepitas, diminutivo de papas, são partículas que surgem na língua de
algumas galinhas, é uma espécie de tumor que lhes obstrui o cacarejo. Quando
não há pepitas (papas), a língua fica livre.
Maria vai com as outras
Dona Maria I, mãe de D. João VI (avó de D. Pedro I e
bisavó de D. Pedro II), enlouqueceu de um dia para o outro . Declarada incapaz
de governar, foi afastada do trono. Passou a viver recolhida e só era
vista quando saía para caminhar a pé, escoltada por numerosas damas de
companhia. Quando o povo via a rainha levada pelas damas nesse cortejo,
costumava comentar: “Lá vai D. Maria com as outras”. Atualmente aplica-se
a expressão a uma pessoa que não tem opinião e se deixa convencer com a maior
facilidade.
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